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Embora entenda, não concordo...nem um bocadinho...
It’s so hard to forget pain, but it’s even harder to remember
sweetness. We have no scar to show for happiness. We learn so little
from peace.
Chuck Palahniuk
sweetness. We have no scar to show for happiness. We learn so little
from peace.
Chuck Palahniuk
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quinta-feira, junho 20, 2013
quarta-feira, junho 19, 2013
Nuno Júdice
Lembro-me agora que tenho de marcar um encontro contigo, num sítio em que
ambos nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma das ocorrências da vida
venha interferir no que temos para nos dizer. Muitas vezes me lembrei de que
esse sítio podia ser, até, um lugar sem nada de especial, como um canto de
café, em frente de um espelho que poderia servir de pretexto para reflectir
a alma, a impressão da tarde, o último estertor do dia antes de nos
despedirmos, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que,
afinal, não conseguimos dizer. É que o amor nem sempre é uma palavra de
uso,aquela que permite a passagem à comunicação ; mais exacta de dois seres,
a não ser que nos fale, de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de
nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma
troca de almas fosse possível neste mundo. Então, é natural que voltes atrás
e me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas vezes pensei em fazer
isso mesmo, mas era tarde, isto é, a porta tinha-se fechado até outro dia,
que é aquele que acaba por nunca chegar, e então as palavras caem no vazio,
como se nunca tivessem sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos para dizer um ao
outro: a confissão mais exacta, que é também a mais absurda, de um
sentimento; e, por trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no
dia seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores do céu, do
mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos encontrar, que há-de ser um
dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o
verde das folhas e o amarelo das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos
muros.
in "Poesia Reunida
ambos nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma das ocorrências da vida
venha interferir no que temos para nos dizer. Muitas vezes me lembrei de que
esse sítio podia ser, até, um lugar sem nada de especial, como um canto de
café, em frente de um espelho que poderia servir de pretexto para reflectir
a alma, a impressão da tarde, o último estertor do dia antes de nos
despedirmos, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que,
afinal, não conseguimos dizer. É que o amor nem sempre é uma palavra de
uso,aquela que permite a passagem à comunicação ; mais exacta de dois seres,
a não ser que nos fale, de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de
nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma
troca de almas fosse possível neste mundo. Então, é natural que voltes atrás
e me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas vezes pensei em fazer
isso mesmo, mas era tarde, isto é, a porta tinha-se fechado até outro dia,
que é aquele que acaba por nunca chegar, e então as palavras caem no vazio,
como se nunca tivessem sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos para dizer um ao
outro: a confissão mais exacta, que é também a mais absurda, de um
sentimento; e, por trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no
dia seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores do céu, do
mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos encontrar, que há-de ser um
dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o
verde das folhas e o amarelo das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos
muros.
in "Poesia Reunida
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sexta-feira, maio 17, 2013
quarta-feira, maio 15, 2013
Era eu a convencer-te de que gostas de mim,
Tu a convenceres-te de que não é bem assim.
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia,
E eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar p'ra esconder a saudade,
E eu a esconder-me do que não se dizia.
(Toranja)
Tu a convenceres-te de que não é bem assim.
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro,
Tu a argumentares os teus inevitáveis.
Eras tu a dançares em pleno dia,
E eu encostado como quem não vê.
Eras tu a falar p'ra esconder a saudade,
E eu a esconder-me do que não se dizia.
(Toranja)
segunda-feira, maio 13, 2013
domingo, maio 12, 2013
sábado, maio 11, 2013
«A memória
O Nelson Mandela está a perder a memória e não vai lembrar-se nunca mais de que é um homem sagrado. Morrerá anónimo para si mesmo, indiferente ao mundo e ao quanto ajudou cada um de nós. Vai desconhecer como foi perseverante, como conquistou a lucidez, não vai saber da sua inteligência superior ou da magnitude da sua beleza.
Leio a notícia enquanto atravesso uma extensa sala de casino em Macau. A alcatifa florida engana o chão. Julga o chão que é perfumado, que vive de alguma forma, que sonha. Pousam as mesas e as cadeiras onde os homens obstinados agem automaticamente, como máquinas de estender e recolher fichas. Ausentes. Sem nada dentro. Penso que estou num lugar com corpos sem nada dentro e que o Nelson Mandela ficará assim, ausente, uma máquina de si mesmo apenas para respirar mais um tempo, até não respirar.
Faltava comover-me em Macau, se é verdade que me ando a comover nas terras todas. Passei de olhos no jardim do chão, a fazer de conta que o jardim se levantava e que punha o mundo bonito para que a minha tristeza fosse acudida pela sensibilidade que nos inspiram as coisas bonitas, as coisas vivas. Queria que a vida aparente fosse efectiva. Que a vida se inventasse por um desenho, se criasse pela semelhança.
Somos todos ainda feitos dos mais absurdos preconceitos. Ainda vamos na primária quanto ao respeito e à aceitação. Somos horríveis para as diferenças, os diferentes, sem entendermos que para sermos iguais disfarçamos tudo, para parecermos iguais. Somos contra os gordos e os feios, os sensíveis e as mulheres, somos contra os pretos, os amarelos e os vermelhos, os de olhos em bico, os morenos, os muito brancos, as loiras, as crianças, os funcionários do McDonalds. Somos contra toda a gente. Metemos nojo.
Eu queria ser merecedor do Nelson Mandela. Queria que, se algum dia me tivesse visto, pudesse achar-me imperfeito sem tragédia. Apenas imperfeito e muita vontade de chegar onde ele chegou: ao lugar puro de sentir, de pensar. O lugar puro de se ser. Quem se objectiva por menos, pensa mal da oportunidade de viver.
Quando as notícias vierem dizer que o Nelson Mandela já não sabe quem é, tenhamos a fortuna de lho dizer e de o dizer a toda a gente e para sempre. Quem não tiver a fortuna de saber acerca do Nelson Mandela anda vazio dos bolsos da alma. Tem muito menos hipóteses de se engrandecer à altura da incrível ocasião de existir. Penso assim, que são homens como ele que apontam o quanto é incrível existir. O resto pode ser apenas aparente. Um casino de flores falsas e gente perdida para dentro da sua própria couraça.»
Valter Hugo Mãe
O Nelson Mandela está a perder a memória e não vai lembrar-se nunca mais de que é um homem sagrado. Morrerá anónimo para si mesmo, indiferente ao mundo e ao quanto ajudou cada um de nós. Vai desconhecer como foi perseverante, como conquistou a lucidez, não vai saber da sua inteligência superior ou da magnitude da sua beleza.
Leio a notícia enquanto atravesso uma extensa sala de casino em Macau. A alcatifa florida engana o chão. Julga o chão que é perfumado, que vive de alguma forma, que sonha. Pousam as mesas e as cadeiras onde os homens obstinados agem automaticamente, como máquinas de estender e recolher fichas. Ausentes. Sem nada dentro. Penso que estou num lugar com corpos sem nada dentro e que o Nelson Mandela ficará assim, ausente, uma máquina de si mesmo apenas para respirar mais um tempo, até não respirar.
Faltava comover-me em Macau, se é verdade que me ando a comover nas terras todas. Passei de olhos no jardim do chão, a fazer de conta que o jardim se levantava e que punha o mundo bonito para que a minha tristeza fosse acudida pela sensibilidade que nos inspiram as coisas bonitas, as coisas vivas. Queria que a vida aparente fosse efectiva. Que a vida se inventasse por um desenho, se criasse pela semelhança.
Somos todos ainda feitos dos mais absurdos preconceitos. Ainda vamos na primária quanto ao respeito e à aceitação. Somos horríveis para as diferenças, os diferentes, sem entendermos que para sermos iguais disfarçamos tudo, para parecermos iguais. Somos contra os gordos e os feios, os sensíveis e as mulheres, somos contra os pretos, os amarelos e os vermelhos, os de olhos em bico, os morenos, os muito brancos, as loiras, as crianças, os funcionários do McDonalds. Somos contra toda a gente. Metemos nojo.
Eu queria ser merecedor do Nelson Mandela. Queria que, se algum dia me tivesse visto, pudesse achar-me imperfeito sem tragédia. Apenas imperfeito e muita vontade de chegar onde ele chegou: ao lugar puro de sentir, de pensar. O lugar puro de se ser. Quem se objectiva por menos, pensa mal da oportunidade de viver.
Quando as notícias vierem dizer que o Nelson Mandela já não sabe quem é, tenhamos a fortuna de lho dizer e de o dizer a toda a gente e para sempre. Quem não tiver a fortuna de saber acerca do Nelson Mandela anda vazio dos bolsos da alma. Tem muito menos hipóteses de se engrandecer à altura da incrível ocasião de existir. Penso assim, que são homens como ele que apontam o quanto é incrível existir. O resto pode ser apenas aparente. Um casino de flores falsas e gente perdida para dentro da sua própria couraça.»
Valter Hugo Mãe
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