Estou aqui, parada: espero a tua pata na minha pele, arranhada: gasta de tantos prazeres. Anda, espero-te na curva do sofá (como sempre!) jeitosa, florida.
Não te sinto assanhado, oh gato! Anda, vem, que me esfrego, redonda, por baixo do teu nariz. Onde estão essas garras (mostra-me se te lembras como se faz!), onde estão essas poses que me aguardavam: felinas. Quero os teus olhos, verdes de mistério, seguirem as minhas voltas: revoltas. Quero-te parado, paralisado, atento: sem tento. Ui, que me falta o alento: solta-se um chiar, surdo, aflito. Vem que te fito: atenta, redonda. Ouve-me, sente-me os cheiros; deixo-me mais mole: quero que me amasses. Masses, desarrumes: desassossega-me, oh gato. Abraça-me tenaz que te aguardo e me guardo, na curva do sofá.
Anda, gato, que suspiro num chio. Soca-me a pele, arranhada de outros tempos, vincada, sulcada; unhas pálidas, afiadas, que anseio no meu seio: mole. Anda, marca-me esta capa de esponja colorida (esvaída) macia, vadia, roída. Anda, não sejas difícil, quero a tua lambida: preciso polir as feridas da espera que desespera. Deslizo-me: provoco-te, gato. Desmancha o pelo dessa pose, parada, eriçada. Atira-me para longe, que me vou saltitante, para lá do teu alento: qual vento. Anda gato, que te aguardo na curva do sofá.
Despacha essa cana que te pesca, esse sino que te toca, arma-te selvagem e corre ao encontro dos meus deslizes suaves. Toca-me, sou macia. Afaga o teu ronronar misterioso e deita-te, assim, enrolado no meu cheiro. Visto-me do teu pelo, esmago-me ordeira por baixo das tuas patas; cubro-me, descubro-me despudorada, do teu odor: intenso.
Ui, gato: adoro quando me atiras, assim com pancadas secas, entre patas. Bolas e rebolas enlaçado nas minhas idas e voltas. Finjo importar-me; escondo-me para que me seduzas mais, e mais, uma vez. Anda, vem que não me canso: descanso entre tu cá e tu lá; escorro-me entre os vãos e os vens. Anda gato, que te aguardo na curva do sofá.
- Cookie, olha o que eu tenho aqui! Pega, apanha!