Total de visualizações de página

sexta-feira, novembro 19, 2010

 "O passado não me é de grande utilidade e raramente penso nele"- escreve Eckhart Tolle para explicar que até aos 30 anos viveu num estado de contínua ansiedade e depressão. Hoje, tem a impressão de falar de uma vida passada ou da vida de uma qualquer outra pessoa. Numa noite acordou com uma sensação de terror absoluto. O que mais o repugnava era a sua própria existência. Para quê continuar a viver tão miserável fardo? Para quê prosseguir essa luta? Sentia um profundo desejo de aniquilação, um profundo desejo de deixar de existir...

 E ao dizer:

- "Eu não posso mais viver comigo próprio" - concluiu que se tratava de um pensamento estranho e questionou-se:

 - Eu sou apenas um ou dois? Se não consigo viver comigo, é porque certamente há dois eus. O "je" e o "moi" com o qual o "je" não consegue viver. Se calhar apenas um é real - pensou ele.

"Um dia, senti-me  aspirado pelo vazio e um medo intenso fez todo o meu corpo tremer. Deixei-me cair nesse vazio e não me lembro do que se passou a seguir..."

 Eckhart calcula que a intensa opressão causada pelo sofrimento forçou a sua consciência a separar-se do "moi" infeliz, imerso num medo profundo que afinal não passava de uma ficção. O falso "moi" desapareceu como desaparece o ar de um balão quando largamos a sua abertura após o havermos enchido. E o que ficou foi a verdadeira natureza, o eterno "eu sou", a consciência no seu estado virgem.

E as pessoas todas disseram-lhe:

- Queremos atingir esse mesmo estado. Pode dizer-nos como fazer?

E Eckhart respondeu-lhes:

- Mas todos estão já nesse estado! Não o sentem porque a mente faz muito barulho...



 In Le Pouvoir du Moment Présent

2 comentários:

  1. A net é uma coisa magnífica. A gente escreve Teilhard Chardin Meio Divino e até aparece um site com o resumo da obra. Curiosamente num dos teus visitados. E até encontro o extracto que me interessava. Cá vai ele:
    «Ora pois, talvez pela primeira vez na minha vida (eu, considerado como alguém que faz meditação todos os dias!) peguei na lâmpada, e deixando a zona, aparentemente clara das minha ocupações e das minhas relações quotidianas, desci ao mais íntimo de mim mesmo, ao abismo profundo donde sinto confusamente que emana o meu poder de acção. Ora, à medida que me afastava das evidências convencionais com que é superficialmente iluminada a vida social, notei que me escapava a mim mesmo. A cada degrau descido, descobria-se em mim um outro personagem, cujo nome exacto já não podia dizer e que já não me obedecia. E quando tive de parar na minha exploração, por me faltar o terreno debaixo dos pés, deparava-se-me um abismo sem fundo donde saía, vinda não sei donde, a onda a que me atrevo a chamar a minha vida.
    Que ciência poderá jamais revelar ao Homem, a origem, a natureza, o regime do poder consciente de querer e de amar, de que é constituída a vida? Não foi o nosso esforço, com certeza, nem o esforço de ninguém à nossa volta, que desencadeou esta corrente. Em última análise, a vida profunda, a vida fontal, a vida nascente furtam-se absolutamente à nossa apreensão.
    E então, perturbado com a minha descoberta, quis voltar á luz, quis esquecer o inquietante enigma no confortável ambiente das coisas familiares, – recomeçar a viver à superfície sem sondar imprudentemente os abismos. Mas eis que, sob o próprio espectáculo das agitações humanos, eu vi reaparecer diante dos meus olhos experientes, o Desconhecido de quem queria fugir. Desta vez, não se ocultava no fundo de um abismo: agora, dissimulava-se por detrás da multidão dos acasos entrecruzados de que é tecida a teia do Universo e a da minha humilde individualidade. Mas era realmente o mesmo mistério: eu identifiquei-o. O nosso espírito perturba-se quando tentamos medir a profundeza do Mundo abaixo de nós. Mas vacila também quando tentamos contar as sortes favoráveis de cuja influência resulta, a cada instante, a conservação e o perfeito desenvolvimento do menor dos seres vivos. Depois de ter tomado consciência de ser um outro e um outro maior do que eu – uma segunda coisa me causou vertigens: foi a suprema impossibilidade, a formidável inverosimilhança de me encontrar a existir no seio de um Mundo realizado com êxito.
    Neste momento, como qualquer que quiser fazer a mesma experiência interior, senti pairar sobre mim a angústia essencial do átomo perdido no Universo, – a angústia que faz sossobrar diàriamente vontades humanas debaixo do número esmagador dos seres vivos e dos astros. E se alguma coisa me salvou, foi o ouvir a voz evangélica, garantida por êxitos divinos, que me dizia, do mais profundo da noite: «Sou eu, não tenhas medo».
    As forças de diminuição são as nossas verdadeiras passividades. O seu número é imenso, as suas formas infinitamente variáveis, a sua influência contínua.»
    Diz-te alguma coisa?
    AK

    ResponderExcluir
  2. Lindíssimo, Anton!

    E como seria bom todos podermos dizer: ^

    - " Sou eu, não tenhas medo"
    (e deixarmos de viver na mediocridade).

    Obrigada pela tua riquíssima presença.

    Beijo tridimensional

    ResponderExcluir